Enfermagem além da linha de frente 

O desafio de gerenciar equipes em meio à maior pandemia do século 

O profissional de enfermagem sempre teve um importante papel junto às instituições de saúde. Hoje, mais de 2,5 milhões de pessoas atuam na profissão no país, entre auxiliares, técnicos, enfermeiros e gestores. Cerca de 80% são mulheres, que desde o início da pandemia viram sua profissão ganhar visibilidade e importância. Além daqueles que atuam na lida direta com pacientes internados, se expondo diariamente aos mais diversos riscos inerentes ao contato com uma doença ainda em descoberta, existe um gestor dedicado a garantir a produtividade e segurança das equipes e dos pacientes, assim como os padrões de atendimento.  

Essa é função de Luzia Ferrero, diretora de enfermagem corporativa da Amil, grupo de saúde que reúne 15 hospitais no Rio de Janeiro e em São Paulo, além de 53 unidades ambulatoriais. Desde o início da pandemia, Luzia está a frente de uma equipe de Enfermagem composta por mais de 8.000 profissionais. No gerenciamento das equipes, sobretudo no âmbito hospitalar, Luzia atua na integração do setor de Enfermagem com as áreas administrativas e de ensino, e tem entre suas atribuições garantir o preparo e dimensionamento das equipes, de modo a garantir a melhor qualidade de atendimento ao paciente. 

Com 36 anos dedicados à profissão, sendo mais de 30 deles em gestão, Luzia destaca a interação com as famílias dos pacientes, a flexibilização e  a humanização do atendimento como o tripé capaz de diferenciar qualquer equipe assistencial. Ela destaca como papel fundamental de um gestor de enfermagem fazer com que sua equipe – enfermeiro, auxiliar e técnico de enfermagem – trabalhe junto, permeando o relacionamento com a equipe multidisciplinar dentro do hospital.  “A enfermagem cuida diretamente do paciente, mas por traz dela há diversos setores de apoio que trabalham 24h com as mesmas normas e diretrizes para que possam realizar um trabalho consistente”. 

Um de seus orgulhos durante sua trajetória é poder contribuir na capitação dos profissionais, tanto na parte técnica como na de competências comportamentais, possibilitando promoções e alcançando resultados como o baixo turnover entre as equipes. “Quem cuida de gente tem que trabalhar feliz. Para liderar e ter resultados é fundamental que o líder tenha respeito e admiração de sua equipe. A essência do meu trabalho é fazer gestão de pessoas, pois as pessoas que vão cuidar de outras precisam estar ainda mais bem cuidadas. Isso sempre foi uma grande preocupação e objetivo”, afirma.  

Outra forma de liderança usada frequentemente por Luzia é a “gestão por exemplo”, seja na atitude ou na atuação de suas funções.  Durante a pandemia, ela não ficou apenas atrás da cadeira, esteve presente nas unidades, dando suporte para todos as equipes de Enfermagem, os acolhendo e apoiando no enfrentamento de uma situação jamais vivenciada. 

“A pandemia trouxe novos conhecimentos para as equipes, além de colocar a enfermagem no centro das atenções. Surgiram novas técnicas, novas formas de treinamento virtual, e, principalmente, o aprendizado em como lidar com a escassez de recursos para tratar uma doença desconhecida”, comenta Ferrero. 

O conselho que a profissional dá para quem quer seguir o caminho dessa profissão tão importante é que, de fato, a pessoa tenha consciência da necessidade de dedicação, compaixão e empatia pelo próximo. “A pandemia mostrou para os jovens a importância da profissão. Para esses, que estão em início de carreira, afirmo que a escolha pelo cuidado de pessoas deve ser o ponto de partida. Cada paciente deve ser avaliado e tratado de forma única. E não raramente é preciso flexibilidade e inteligência emocional para a tomada de decisões. O enfermeiro deve ser empoderado na gestão assistencial e ter uma visão sistêmica. Agir pelo conhecimento e negociação, não pelo conflito, isso é uma coisa que eu prezo muito”, sugere Luzia.